Sunday, November 12, 2006

Coleta de sementes na floresta: curso de identificação de matrizes

Joãozinho, funcionário do Parque que mais conhece as espécies nativas, mostra frutos de Pacuri-açú, espécie ameaçada de extinção que teve sementes recolhidas para produção de mudas

A primeira atividade de campo do projeto FLORESTA ATLÂNTICA foi um curso de coleta de sementes ministrado por profissionais do Instituto Florestal para membros da ilhabela.org e funcionários do Parque Estadual de Ilhabela, dentro dessa unidade de conservação. Na tarde do sábado e na manhã de domingo, começamos a aprender como identificar e selecionar as matrizes -aquelas árvores que vão fornecer as sementes para nosso viveiro de mudas nativas. Como Ilhabela acha-se separada do continente por um canal que tem entre 3 e 6 Km de largura, as espécies daqui pertencem a uma "piscina genética" diferente da vegetação do continente. Por esse motivo, o projeto FLORESTA ATLÂNTICA não pode utilizar mudas vindas de outros lugares para a revegetação de áreas do Parque Estadual de Ilhabela. Temos de coletar as sementes e produzir as mudas aqui mesmo.

Na tarde de sábado, Flaviana Maluf de Souza, do Instituto Florestal, falou sobre a biodiversidade da floresta e detalhou os seguintes pontos:
  • genética e parentesco entre as plantas
  • o que é uma matriz florestal
  • como escolher a matrizes
  • quantas espécies são necessárias para recomposição da mata
  • quantas árvores de cada espécie devem ser marcadas
  • escolha das espécies
  • quais espécies devem ser priorizadas
  • legislação sobre plantio
  • coleta de sementes em unidade de conservação
  • a importância da ficha de coleta
A conclusão da aula de sábado foi de que nosso projeto requer a identificação e produção de mudas de 80 diferentes espécies de árvores, sendo que pelo menos 10% devem ser ameaçadas de extinção. Para garantir a variabilidade genética do viveiro, idealmente deveríamos encontrar 45 "indivíduos" diferentes de cada uma dessas espécies -o que eleva o número total de matrizes a serem identificadas para exatas 3.600 árvores!

No domingo, fomos até a trilha da Água Branca para buscar matrizes. Natália Macedo Ivanouskas explicou como identificar e marcar corretamente uma matriz. Seguindo esses procedimentos marcamos 5 árvores, incluindo uma espécie que está em extinção -e que segundo Joãozinho do Parque é chamada na Ilha de Pacuri-açú. Natália ensinou ainda como fazer uma excicata, técnica de herborização que consiste em prensar um ramo da planta para posterior identificação e catálogo.

O ritual da marcação de matrizes

Cada vez que uma matriz é selecionada ela recebe uma plaquinha metálica com um número de identificação. Numa planilha de controle, esse número é anotado, junto com uma série de outras infomações, tais como o nome científico e popular da árvore, as coordenadas de sua localização no GPS, o diâmetro de seu tronco, a época de sua floração e, se for o caso, o estágio de amadurecimento de seus frutos, entre outras infomações. Todos esses dados devem ser repassados para o Instituto Florestal, junto com um pequeno ramo da árvore, que ficará guardado no herbário dessa instituição. Essas medidas visam garantir o máximo controle sobre as matrizes e o combate à biopirataria.

A conclusão da aula de domingo foi que todas as matrizes já demarcadas em Ilhabela, localizadas fora da área do Parque, terão de ser catalogadas novamente, já que os procedimentos exigidos pelo Instituto Florestal não foram seguidos pelo viveiro da Prefeitura Municipal. As matrizes que, a partir de agora, vamos identificar dentro do Parque, vão seguir essas normas.

Por tudo isso ficou claro que se não pudermos contar com a dedicação e os conhecimentos de Joãozinho, o projeto FLORESTA ATLÂNTICA não terá chances de se materializar. No final do dia toda a equipe fez uma visita à diretora do Parque Estadual de Ilhabela, Marília Brito de Moraes, para explicar a situação e pedir seu apoio no sentido de que a Prefeitura faça um convênio com a ONG ilhabela.org, de maneira que esta possa fazer uma supervisão técnica do viveiro municipal, para que este passe a atender às rígidas ecigências do Instituto Florestal. Marília afirmou que esa decisão não depende dela, e sim da Secretária Municipal do Meio Ambiente, Maria Inez Fazzini.

Entretanto, Marília garantiu que de agora em diante Joãozinho trabalhará alguns dias por semana no projeto FLORESTA ATLÂNTICA. Ainda nesta semana, ele e Ricardo Anderáos vão iniciar o trabalho de recatalogação das matrizes, agora seguindo as orientações dos técnicos do Instituto Florestal. Caso não seja possível um acordo com a Prefeitura, iniciaremos em algumas semanas a montagem de um viveiro na sede da ilhabela.org.

Abaixo, um vídeo com cenas das aulas de identificação e marcação de matrizes -quando encontramos e destruímos uma armadilha colocada por caçadores no interior do Parque Estadual.


0 Comments:

Post a Comment

<< Home